Nosso cérebro começa a perder as células do sistema nervoso antes mesmo dos 30 anos. Mas pesquisas mostram que é possível retardar esse processo. E o melhor: jogando videogame. Da próxima vez que você der um presente para alguém acima de 60 anos, pense duas vezes. Opções tradicionais como roupas de dormir ou mesmo jogos de xadrez ou de damas estão perdendo espaçao para os videogames. Isso mesmo: videogames. A novidade tem agradado cada vez mais gente nessa fase da vida, principalmente em países como Estados Unidos e Japão, lançadores de tendências.
O melhor é que essa moda tem o aval da ciência. Institutos de pesquisa, a exemplo da Universidade do Texas (veja boxe), estão conduzindo estudos e concluindo que esses aparelhinhos ajudam a melhorar o humor, a concentração e até a coordenação motora.
Tudo porque propõem desafios que estimulam o raciocínio e exercitam o cérebro, afastando problemas comuns a partir dos 60 anos, como a perda da memória e até o mal de Alzheimer (doença caracterizada pela progressiva perda das funções intelectuais). Boa novidade também é que eles oferecem a chance de as pessoas interagirem, tirando-as do isolamento – queixa frequente nessa idade. “De forma geral, são fáceis de jogar e ideais para desfrutar a companhia de outras pessoas”, explica o jornalista David Lemes, mestrando em desenvolvimento de games na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Os games preservam a memória na terceira idade
Até no Brasil existem centros de pesquisa desenvolvendo estudos na área. Um deles é o Instituto Paulista de Déficit de Atenção. Lá, eles utilizam um treinamento para ondas cerebrais, chamado de neurofeedback, quase uma “musculação para o cérebro”.
Segundo a psicóloga Cacilda Amorim, diretora da clínica e coordenadora do Grupo de Estudos em Biofeedback e Neuroterapia da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp, esses jogos são específicos para treinar e melhorar a atenção e o raciocínio. Enquanto joga, o paciente fica conectado por meio de um eletrodo fixado em seu couro cabeludo. Cacilda explica que, de um modo geral, o cérebro pulsa rapidamente quando executa atividades mais exigentes, como fazer cálculos mentais, ou quando precisa de muita concentração.”O terapeuta define os parâmetros de cada sessão (se mais ou menos difícil), dependendo do nível do usuário e da finalidade do seu treino”, diz a especialista.
Vantagem tecnológica
Na verdade, os jogos que têm o objetivo de estimular as funções cognitivas cerebrais não são novidade. Bons exemplos disso são os de memória, forca, cartas, palavras cruzadas e xadrez – que são estratégicos por excelência. “Como o jogador precisa antecipar o movimento de seu adversário, tem que elaborar suas jogadas mentalmente”, explica Roger Tavares, professor de pós-graduação em games do Senac. A vantagem dos videogames sobre essas brincadeiras é que, conforme as fases vão passando, a dificuldade aumenta. Para quem não sabe, os games têm etapas que variam de um jogo mais fácil para o mais difícil. Esse desafio constante estimula o “bom funcionamento” dos neurônios, fortalecendo as conexões (a comunicação) entre eles.
Não é difícil entender. Os neurônios são células que estão ligadas umas às outras, sendo responsáveis por conduzir o impulso nervoso. Se não forem estimuladas, podem morrer, comprometendo a transmissão de informações para outros neurônios, músculos ou glândulas. “A idéia é usar para não perder”, explica Cacilda Amorim.
é verdade que nem todo problema de memória é decorrente do envelhecimento ou de perda dessas células. Segundo Cacilda, fazer muitas coisas ao mesmo tempo, excesso de trabalho e estresse crônico prejudicam a atenção e, consequentemente, os processos de formação e recuperação da memória. é justamente aí que os games podem ajudar, à medida que relaxam, ao mesmo tempo que estimulam a superação individual.
Revista Viva Saúde – Out/2007 – Editora Abril – Por Paula Reia