Artigo retirado do site www.montessoriano.com.br.
Revista Pluriversitário, Salvador, Ano I, Vol. I, 2017 – Paper
Apraxia da fala em sala de aula na educação infantil¹
Aline dos Santos Alves
Anizia Maria Santos de Assis
Jaqueline Nascimento dos Santos Orleans
Noemí Evelin Santos de Santana[2]
RESUMO: Este estudo tem o objetivo de mostrar a importância do conhecimento sobre apraxia da fala na prática escolar, na tentativa de discutir sobre como professores têm entendido e tratado crianças portadoras da síndrome. Para isso, no primeiro momento, apresentamos a síndrome, ainda pouco conhecida pelos profissionais da educação, numa breve revisão bibliográfica, já que há uma carência de estudos sobre a apraxia da fala. Na sequência, analisamos e apresentamos dados do estudo de caso realizado, envolvendo profissionais da saúde e da educação.
PALAVRAS-CHAVE: Apraxia da Fala. Sala de Aula. Educação Infantil.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como finalidade mostrar a importância do conhecimento sobre apraxia da fala na prática escolar. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com foco num estudo de caso, que visa produzir conhecimento sobre a “Apraxia da fala em sala de aula na educação infantil”. Para isso, pretende-se apresentar a apraxia da fala e seus efeitos na criança portadora da síndrome, que é classificada como uma dificuldade em articular sons, silabas e palavras. Segundo Hennemann (2016), trata-se de “um distúrbio que pode ser observado após uma lesão neurológica, apresentando uma incapacidade de realizar movimentos voluntários aprendidos, como gestos e movimentos do dia a dia”.
Um dos principais objetivos desse estudo é investigar como os professores têm lidado com crianças portadoras da apraxia da fala, observando as dificuldades encontradas por eles para a comunicação com e do portador em sala de aula. Junto a isso, buscamos analisar como a saúde pública tem atendido os portadores da apraxia da fala, no que diz respeito ao tratamento fonoaudiológico, quais as dificuldades encontradas pelos familiares em atendimento específico para a criança portadora e como os profissionais orientam os professores.
O estudo foi desenvolvido com base no aporte teórico de Souza, Payão, L.M.da C. (et al,2008), Souza, T. N.U.; Payão (2009), Giusti e Elisabete (2016), Hennemann, Ana Lucia (2016).
2. APRAXIA DA FALA E SEUS EFEITOS NA CRIANÇA
A apraxia é um distúrbio causado por uma lesão neurológica, uma incapacidade das realizações de atos premeditados. Decorrendo de diversos fatores, sendo eles, traumas na região do cérebro, tumores ou outros danos. Ana Lucia (2016) explica a praxia da fala como uma “incapacidade de realizar o ato motor complexo”, que segundo ela “deve ocorrer na ausência de perturbações da capacidade de compreensão, reconhecimento e manipulação instrumental dos objetos (agnosias e afasias)”. A autora menciona que o desaparecimento da habilidade de se comunicar é gerado através do distúrbio causado, dificultando no manuseio de objetos que poderiam ser exercidos de forma mais fácil.
Entende-se, então, que o ato de se comunicar é altamente primoroso, pois é um procedimento que cerca os músculos faciais. O comando da fala é agregado e depende de recursos cerebrais:
O apráxico demonstra, em suas tentativas de falar, que tem clara em sua mente a palavra que deseja emitir, mas que não é capaz de realizar a programação das posturas específicas dos órgãos fonoarticulatórios (OFA) para produzir os sons desejados, na ordem e sequência adequadas para a articulação da fala (SOUZA, T.N.U.; PAYÃO, L.M.daC, p. 193-202, 2008).
Portadores da síndrome têm discernimento dos seus obstáculos, arriscam falar corretamente, mas não conseguem por causa das suas limitações na fala. A apraxia da fala é um assunto novo na rede escolar, muitos professores desconhecem e possuem muita dificuldade para trabalhar com crianças portadoras desse distúrbio, pela irregularidade na comunicação. Conforme Souza (2008, p.193),
[o]s movimentos de lábios, língua e mandíbula sofrem modificações, e os movimentos indiferenciados no início da infância passam a ser refinados e diferenciados conforme o desenvolvimento. Essas transformações também são fundamentais para alcançar níveis mais elevados de precisão e coordenação articulatória, importantes para a efetividade da comunicação oral.
A realização da fala torna-se prejudicada, identifica-se, assim, a hipótese de um distúrbio práxico na infância. Dos quais as incorreções da fala diferenciam do atraso do progresso da fala. Foi criado um dia especifico para conscientização da apraxia da fala na infância, no dia 14 de maio, ainda é um assunto pouco visto pelos profissionais da educação.
2.1CONHECENDO A HISTÓRIA
O interesse pelo assunto surgiu devido a um caso na família de uma das participantes do grupo, que foi disposto como tema de pesquisa para o Interdisciplinar, sendo um tema desafiador, devido à falta de conhecimento e pouco campo para a pesquisa. Pelo caso citado, percebemos que há dificuldade em se incluir a criança portadora da síndrome nas atividades de sala de aula, como também ainda é difícil chegar ao diagnóstico, já que é uma síndrome pouco conhecida. Por isso, houve o investimento de realizar essa pesquisa, no intuito estruturar e divulgar o conhecimento básico sobre o assunto, divulgando sobre o tratamento e a inclusão escolar das crianças portadoras de Apraxia da Fala.
Considerando que o assunto é bastante desconhecido, entende-se a dificuldade na precisão do diagnóstico, por sua vez, a ausência de acompanhamento médico na rede pública cria grandes obstáculos para lidar com essa realidade. Daí, então surgiu a indagação que norteia nossa investigação: como é que o professor de Educação Infantil envolve, em sua prática, as crianças portadoras de apraxia? De antemão, trazemos Souza (2009), que descreve a fala dessas crianças como apresentando “uma redução no ritmo, com segregação de sílaba, associada à percepção de isocromia ou tempo similar, sílabas e palavras segregadas ou não co-articuladas, consideradas como correlatos prevalentes nos quadros de apraxia da fala”.
Para melhor entendimento do assunto, foi elaborado um questionário para observar como a família da criança detectou o problema. Chegou-se a informação de que foi percebido o atraso na fala quando a criança estava com 3 anos. Foi quando a criança tentou se comunicar com as pessoas e não obteve sucesso na comunicação. Após a observação da mãe, a criança foi encaminhada à fonoaudióloga. Entretanto, pela falta de informação e de formação para lidar com o caso, foi informado para a mãe que a criança ainda poderia ampliar o seu vocabulário, que era apenas um atraso normal. Depois de muito tentar, a mãe conseguiu uma fonoaudióloga voluntária, pelo posto de saúde e só nesse momento identificou-se o atraso como Apraxia da Fala. Nesse caso, a mãe foi orientada a levar a criança para um neuropediatra.
Pelo relato da mãe da criança, somente se compreende o que a criança quer dizer através da gesticulação, os mais próximos dele já conseguem compreender, já as outras crianças de seu convívio entendem apenas sua comunicação através dos sinais. Apesar de a criança em estudo ser bastante comunicativa, ele apenas se expressa com quem possui maior convivência, pois já antecipa que as pessoas não o entenderão e, devido a isso, distancia-se para evitar dialogar com os demais. Quando não há uma compreensão das pessoas, ele fica bastante nervoso e impaciente. Na escola ele se expressa muito bem, brinca e opina sobre as coisas. A professora se esforça muito para entender, embora não entenda muito sobre a síndrome.
3. PROFESSORES E O CONHECIMENTO SOBRE A APRAXIA DA FALA
A análise feita aos professores da rede pública e particular, notou-se que, nem todas as escolas e professores estão preparados para receber e trabalhar com crianças com transtornos no desenvolvimento da fala e da linguagem. Poucos, dos professores entrevistados, souberam sugerir como trabalhar em parceria com o fonoaudiólogo da criança, foi informado que o portador, por não ser compreendido, acabava sendo excluído das brincadeiras exercidas em sala de aula. Nota-se que, devido à falta de formação, o docente não soube como avaliar a criança. Sobre isso, Elisabete Giusti (2011), explica que:
É importante respeitar o ritmo da criança e, considerando que ela tem uma dificuldade para se comunicar, o professor deve ser o intermediador da criança com os colegas, deve estar atento para que a criança não seja excluída do grupo de amigos. Não podemos esquecer que além da comunicação verbal temos também a comunicação não-verbal: olhar, gestos, expressão facial, movimentos corporais, postura, choro, rebeldia, agressão, irritabilidade…também podem ser formas de comunicação.
Quando a criança sente-se acolhida, querida e compreendida pelo professor, terá uma melhor produtividade, caso o oposto aconteça, a criança que já possui uma dificuldade para se comunicar, acaba se restringindo a se manifestar com o professor e com os colegas. Ao perceber que as pessoas não o entendem, acaba se limitando a falar, deixando de praticar os movimentos necessários para o seu desenvolvimento.
A relação aos métodos de alfabetização, em alguns estudos indicam que o método tradicional com o ensino das famílias silábicas, entre a relação letra-som facilita para o desenvolvimento de forma, mais rápida do que métodos analíticos, globais, como o construtivismo. (GIUSTI, 2011.)
Ressalta-se que o professor precisa estar atualizado e atento quando a criança não conseguir se comunicar, pois, quanto mais cedo encaminhado for para um especialista, mais rápida será a chance de descobrir o diagnóstico e mais rápido o tratamento para que a criança fale. É muito importante que as instituições, privadas e públicas, trabalhem em conjunto com os docentes, buscando especialistas que contribuam para a formação do professor, buscando um melhor desenvolvimento da criança. Mesmo que no Brasil seja um assunto pouco visto, como docente, é necessário que se esteja atento à criança e seu desenvolvimento, principalmente na fala, o que não é realidade em algumas escolas.
4. AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NO TRATAMENTO DO PORTADOR
Para um fonoaudiólogo atender uma criança com apraxia, ele deve possuir muita disposição, deve conhecer e entender o planejamento motor de fala, controle motor da fala e principalmente entender sobre os princípios de aprendizagem motora. Um Fonoaudiólogo que conhece e estuda esses princípios, certamente, saberá planejar uma intervenção adequada. É necessário acompanhamento fonoaudiológico, terapia ocupacional e psicológico, para que a criança venha a falar.
Uma das principais dificuldades encontradas por profissionais da saúde que ministram programas de reabilitação para esses pacientes é diagnosticar tal distúrbio, para que as terapias sejam dirigidas às causas reais dos déficits funcionais e, consequentemente, obtenha-se êxito quanto à sua reabilitação. (HENNEMAN, 2016, p.1)
A autora postula que a melhor terapia é aquela que consegue agregar várias estratégias, várias técnicas, vários conhecimentos. Sempre pensando no que for o melhor para os pacientes e para o que realmente dá resultado. Se não der, é preciso rever se o diagnóstico está adequado, se os objetivos estão adequados, se as estratégias estão adequadas.
Dessa maneira, é importante conhecer detalhadamente esse quadro complexo, bem como suas características, para poder planejar o tratamento de forma adequada. Isso porque a terapia de apraxia da fala apresenta-se como uma das terapias mais difíceis dentro dos distúrbios de fala e de linguagem, pois é uma alteração da articulação, normalmente difícil de ser reabilitada e, geralmente, os processos terapêuticos são longos (SOUZA, 2009)
Assim como, para a saúde, existem grandes dificuldades, para a família do paciente, existem barreiras para serem vencidas e uma delas é conseguir um acompanhamento com um especialista da área, na rede pública. A criança precisa ter um acompanhamento médico, como fonoaudiológico e neuropediátrico e, a depender, psicplógico, pois precisa de terapia ocupacional. Todos esses acompanhamentos são necessários para que a criança venha a desenvolver a fala e para que não fique constrangido, desenvolvendo um quadro de depressão, o que agravaria a evolução da síndrome. Em alguns casos, a família pode não ter convênio ou dinheiro para custear o tratamento, então recorre ao SUS (Sistema Único de Saúde), onde para se conseguir apenas um fonoaudiólogo é um processo muito demorado e longo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa partiu de um estudo de caso, mas teve sua fase de revisão bibliográfica, que possibilitou aos componentes da equipe ampliar o conhecimento sobre o assunto, um desafio para os futuros educadores.
Tendo em vista o despertar para a importância de estar preparado para trabalhar com diversos tipos de inclusão, sendo observado que muitos docentes ainda desconhecem a síndrome e que devido à falta de conhecimento essas crianças ficam exclusas das atividades. É relevante saber lidar e trabalhar em sala de aula, sem que haja exclusão de alunos, devido a qualquer que sejam suas demandas especiais.
Ressalta-se que, em casos da existência de alunos com Apraxia da Fala na instituição, é importante que o professor como intermediador do discente tenha uma interação com o fonoaudiólogo, ele ou a Instituição, para que facilite o desenvolvimento do tratamento.
Observamos que alguns pais, professores ignoram e demoram a aceitar, pois ao procurar uma ajuda mas precisa os profissionais de saúde por falta de conhecimento, denominam o atraso como normal e esperado na criança, dificultando o atendimento e até mesmo aceitação dos pais com seus filhos.
NOTAS
[1] Trabalho apresentado como etapa final dos Estudos Interdisciplinares do semestre 2016.2, na Faculdade Montessoriano, sob orientação dx Prof. Msc. Vércia Gonçalvez. E-mail: verciagoncalvez10@yahoo.com.br
[2] Discentes do 3° semestre do curso de Pedagogia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HENNEMANN, Ana Lucia. Apraxia. Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/apraxias.html>. Acessado em: 29 de Agost. de 2016.
GIUSTI, Elisabete. Apraxia de Fala: e na escola o que fazer? Disponível em: <http://www.atrasonafala.com.br/apraxia-fala-infantil-criancas- tratamentos.html>>. Acessado em: 17 de Agosto de 2016.
SOUZA, T.N.U.; PAYÃO, L.M.daC. Apraxia da fala adquirida e desenvolvimental: semelhanças e diferenças. Rev Soc Bras Fonoaudiol. p. 193-202, 2008
SOUZA, T. N.U.; PAYÃO, L.M.da C.; COSTA, R.C.C. Apraxia da fala na infância em foco: perspectivas teóricas e tendências atuais. Faculdade de Fonoaudiologia de Alagoas da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. Fev. 2009.