Artigo retirado do site www.montessoriano.com.br.
Revista Pluriversitário, Salvador, Ano I, Vol. I, 2017 – Artigo Ciêntífico
O PEDAGOGO E SEUS CAMPOS DE ATUAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE[1].
Ingrid Souza Silva[2]
Leila Carla Silva Gonçalves[3]
Rosangela S. Oliveira[4]
Selene Gomes Araújo[5]
Leandro A. Santos[6]
RESUMO: Esse artigo propõe compreender a diversidade de espaços que podem servir como campos de atuação para o pedagogo, conhecer que dinâmica educacional requer esses espaços educacionais, quais os requisitos necessários para que esses profissionais possam atuar nesses espaços e se os cursos de graduação em Pedagogia os preparam para essa realidade pouco explorada. Para tal, foram realizadas entrevistas com professores que atuam em escolas, tanto em sala de aula, como na gestão, a fim de traçar um perfil tanto dos cursos de formação quanto dos profissionais egressos desses cursos.
Palavras-chave: Atuação. Currículo. Contemporaneidade. Pedagogo.
ABSTRACT: This article proposes to understand the diversity of spaces that can serve as fields of action for the pedagogue (a), to know what educational dynamics these educational spaces require, what are the necessary requirements for these professionals to work in these spaces and if the courses Undergraduate degree in Pedagogy prepare them for this unexplored reality. To that end, interviews were conducted with teachers who work in schools, both in the classroom and in management, in order to draw a profile of both the training courses and the professionals who graduated from these courses.
Keywords: Performance, curriculum, contemporaneity, pedagogue.
1. INTRODUÇÃO
Baseado em fatos históricos, a pedagogia tem origem na Grécia Clássica, no século XVII. A palavra grega “Paidagogos” é formada pela palavra paidós (criança) e agogos (condutor), sendo assim pedagogo é aquele que conduz a criança ao saber. Conforme Barreto e Couto, 2016, o pedagogo é o especialista em pedagogia, a ciência e a arte da educação, tendo como objetivo conduzir o comportamento das pessoas para uma formação humana, intelectual e equilibrada.
O pedagogo[7] é um profissional capacitado para atuar em diversos ramos, já que ele é graduado de forma diversificada, uma vez que, sendo assim, se qualifica para exercer suas habilidades de condução ao saber em qualquer meio ao qual o indivíduo esteja inserido. Portanto, esse artigo se justifica pela necessidade de dar visibilidade aos diversos campos de atuação do pedagogo, para desmistificar a ideia de que esse profissional só pode atuar em ambiente escolar. Outro aspecto relevante abordado neste artigo é como o pedagogo se capacita para a atuação em espaços que não sejam criados previamente para a educação escolar formal, como tais espaços são vistos e de que maneira é feito o acolhimento dos profissionais da Pedagogia.
O pedagogo é um profissional que tem sua formação acadêmica na ciência da educação e, sendo assim, pode atuar em diferentes espaços de nossa sociedade, pois a educação é cabível e indispensável em todo e qualquer lugar. Visando entender melhor esta atuação extraclasse é que este artigo foi elaborado, pois se percebe que, embora haja um entendimento e defesa desta atuação do pedagogo em diversas áreas em nossa sociedade fora do âmbito escolar, ainda se faz necessários estudos que nos exemplifiquem de forma que possam contribuir em nossa contemporaneidade para o desempenho com melhor êxito dessas atuações pedagógicas em espaços diferenciados.
A metodologia utilizada para a confecção desse artigo é uma abordagem qualitativa, quantitativa e bibliográfica, com aplicação de questionários e entrevistas com pedagogos, embasada em artigos, livros e publicações da internet, já existentes sobre essa temática.
2. ENTENDENDO A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM DIVERSOS CAMPOS
A educação é uma mola propulsora. O mais comum é que, através dela, o indivíduo consiga atingir o sucesso em vários âmbitos da sua vida, principalmente no profissional. Mas ela não pode ser estanque, precisa correr livre, movimentando-se freneticamente. Dessa forma, o indivíduo está em constante processo de aprendizagem em todos os contextos da sua vida. Segundo Holtz, 2006,
A Pedagogia é a ciência que estuda e aplica doutrinas e princípios visando um programa de ação em relação à formação, aperfeiçoamento e estímulo de todas as faculdades da personalidade das pessoas, de acordo com ideais e objetivos definidos. A Pedagogia também faz o estudo dos ideais e dos meios mais eficazes para realizá-los, de acordo com uma determinada concepção de vida (HOLTZ,2006, p 6).
Amparando-se nas ideias de Holtz (2006), é possível afirmar que o especialista em Pedagogia, ou seja, os pedagogos devem estar aptos para atuar em qualquer espaço socioeducativo formal ou não formal, pois esse profissional trabalha com a educação na integralidade do ser humano. De acordo com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), no artigo 22,
A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar- lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL, 1996, p 17.)
De acordo com a LDB, a finalidade da educação é desenvolver o educando, sendo assim pressupõe-se que a educação está inserida em todos os âmbitos sociais e é direito de todos para o exercício da cidadania, para a formação do indivíduo, construtor de conhecimentos.
No decorrer de sua graduação, o profissional de pedagogia se capacita para intermediar ações educacionais, essas ações podem ser aplicadas no âmbito escolar (instituições de ensino públicas e privadas) e não escolar (empresas, hospitais, residências).
De acordo com Freire, 2011, a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Nesta perspectiva, percebe-se que a prática docente está em constante reverberar, onde mudanças ocorrem de forma constante, levando este educador se autoanalisar constantemente, para assim então atuar agindo e refletindo em suas práticas.
3. A PEDAGOGIA EMPRESARIAL E SUA IMPORTÂNCIA
Existe um leque de possibilidades de atuação para o pedagogo que transcende as barreiras escolares. Porém, a presença desses profissionais em instituições não educacionais, ainda causa estranheza em profissionais de outras áreas, levando-os a indagar qual o papel a ser desempenhado pelo pedagogo fora da classe escolar. Esse capítulo tem como finalidade pesquisar a Pedagogia Empresarial, e quais suas contribuições para as instituições que absorvem esses profissionais.
Só no final da década de 80, que o pedagogo empresarial moldou-se ao seu perfil atual, pois, nesse período, o governo retirou o apoio financeiro dado às empresas para fins de treinamento. Dessa forma, as empresas restringiram o número desses profissionais, que antes eram muitos. E os mesmos passaram a ser os gestores do conhecimento, buscando não mais a mecanização do indivíduo, mas sua capacidade inventiva e dedutiva, já que as empresas perceberam que o sucesso dependia do ser humano como um todo. Para Holtz, 2007:
A Pedagogia e a Empresa fazem um casamento perfeito. Ambas têm o mesmo objetivo em relação às pessoas, especialmente nos tempos atuais. Uma Empresa sempre é a associação de pessoas, para explorar uma atividade com objetivo definido, liderada pelo Empresário, pessoa empreendedora, que dirige e lidera a atividade com o fim de atingir ideais e objetivos também definidos. A Pedagogia é a ciência que estuda e aplica doutrinas e princípios visando um programa de ação em relação à formação, aperfeiçoamento e estímulo de todas as faculdades da personalidade das pessoas, de acordo com ideais e objetivos definidos. A Pedagogia também faz o estudo dos ideais e dos meios mais eficazes para realizá-los, de acordo com uma determinada concepção de vida (HOLTZ, 2007, p.06).
Constata-se que, embora a empresa não seja um espaço escolar tem como fator determinante para o seu sucesso, o ensino e a aprendizagem. É nesse paradigma que surge a pedagogia com intuito de aplicar as suas doutrinas e princípios visando um programa de ação em relação à formação, aperfeiçoamento e estímulo de todas as faculdades da personalidade das pessoas.
Conforme resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) – CP nº.1 de
15 de maio de 2006, que embasa o curso de pedagogia, são atribuídas ao pedagogo:
Art. 4º, parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições englobando:
-
– Planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da educação;
-
– Planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não escolares;
-
– Produção e difusão do conhecimento científico tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não escolares. (CNE, 2006)
Percebe-se, conforme resolução, a amplitude do campo de atuação do pedagogo e também como sua contribuição perpassa os ambientes escolares, influenciando também o campo empresarial, onde sua contribuição é de suma relevância. Embora haja um respaldo das Diretrizes Curriculares Nacionais (2006), referentes à atuação do pedagogo extraclasse, muitas são as dúvidas sobre o desempenho e o que de fato esses profissionais realizam nas empresas, tais como, suas funções, como esse profissional desempenhará suas atribuições, o que de diferente existe em suas efetivações profissionais.
Assim, pode-se perceber que um dos maiores desafios enfrentados pelos pedagogos, nesta área, é provar que as atribuições deles, na empresa, não são apenas preparar os materiais para treinamento dos funcionários, ou fazer dinâmicas de grupos, e sim desenvolver meios para que o funcionamento dessa equipe seja realizado com entendimento e eficácia. Para tanto, são necessários estudos sobre o ambiente ao qual o mesmo encontra-se inserido, analisar as informações obtidas através de uma observação prévia, levando-o a produção de um planejamento e escolha da metodologia que será aplicada, para que a meta que foi proposta pela empresa, possa ser alcançada.
Segundo Holtz, são responsabilidades do pedagogo:
-
Conhecer e encontrar as soluções práticas para as questões que envolvem a otimização da produtividade das pessoas humanas – o objetivo de toda Empresa.2. Conhecer e trabalhar na direção dos objetivos particulares e sociais da Empresa onde trabalha.3. Conduzir com atividades práticas, as pessoas que trabalham na Empresa – dirigentes e funcionários – na direção dos objetivos humanos, bem como os definidos pela Empresa.4. Promover as condições e atividades práticas necessárias – treinamentos, eventos, reuniões, festas, feiras, exposições, excursões, etc… -, ao desenvolvimento integral das pessoas, influenciando-as positivamente (processo educativo), com o objetivo de otimizar a produtividade pessoal.5. Aconselhar, de preferência por escrito, sobre as condutas mais eficazes das chefias para com os funcionários e destes para com as chefias, a fim de favorecer o desenvolvimento da produtividade empresarial.6. Conduzir o relacionamento humano na Empresa, através de ações pedagógicas, que garantam a manutenção do ambiente positivo e agradável, estimulador da produtividade. (HOLTZ, 2007, p.9).
Diante das atribuições designadas ao pedagogo empresarial e remetendo-se ao atual currículo das instituições que oferecem o curso de Pedagogia, se faz necessário uma reflexão de quão preparados estão esses profissionais para estarem aptos a exercerem essa função.
Após o discorrido nesse capítulo, compreende-se a relevância do trabalho desenvolvido pelo pedagogo empresarial e, sua contribuição efetiva no sucesso organizacional e produtividade da empresa. Já que busca treinar (educar) o funcionário (educando) na sua integralidade, respeitando a sua singularidade e seus interesses. Destacando que em nenhum momento esse profissional deve ser confundido com psicólogo ou administrador, pois o mesmo é um educador, e como tal, deve ser visto como um incentivador a transformação do ser humano elevando-o à sua totalidade.
4. A PEDAGOGIA NO AMBIENTE HOSPITALAR
Conforme proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (MEC, 1996), toda criança precisa dispor de todas as oportunidades possíveis para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam suspensos. Percebe-se, assim, que, apesar do enfrentamento de um tratamento hospitalar, é possível dar continuidade a ação educacional escolar, respeitando sempre o processo e o momento da criança, aos seus estudos extraclasses, a saber: em uma classe hospitalar. Neste sentido, consoante determinação do MEC (1994), entende- se que:
Classe hospitalar é o ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar. (BRASIL, 1994, p.20).
E é nesta perspectiva de dar continuidade ao processo ensino- aprendizagem da educação que outrora fora interrompido por ocasião de um diagnóstico médico, é que entra em cena a pedagogia hospitalar e o profissional de atuação, que é o pedagogo hospitalar. Ainda pelo viés de entender o que significa, de fato, a pedagogia hospitalar, acredita-se que é:
O atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental. (BRASIL, 2002).
De acordo com Marcos Mazzotta (1996, p.38-39), a pedagogia hospitalar surge pela primeira vez no Brasil, no Estado de São Paulo, na Santa Casa de Misericórdia, que desde 1931 iniciou o atendimento pedagógico educacional para deficientes físicos, embora haja pessoas que defendam que o primeiro atendimento educacional em ambiente hospitalar no Brasil aconteceu no Rio de Janeiro, no hospital Municipal de Jesus.
O fato que não há como ser negado é que, desde o surgimento das primeiras classes hospitalares até chegar a nossa contemporaneidade, a importância da atuação dos pedagogos nestes ambientes vem ganhando espaços, levando os pedagogos a se adaptarem a novas realidades e também estarem buscando cada vez mais o conhecimento científico, sobremodo na área educacional para uma melhor atuação neste ambiente, que, por vezes, lhe imputa, cada vez mais, a diversificação de sua prática pedagógica educacional. Por tal motivo, segundo Libâneo (1995), cabe a:
Todos os educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica nas varas esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades do mundo contemporâneo. (LIBÂNEO, 1995, p. 59).
Deste modo, fica notório que o pedagogo, que está inserido em um ambiente hospitalar, precisa desafiar-se a cada dia, na perspectiva de contribuir através de suas intervenções educativas e pedagógicas, buscando na relação com este aluno hospitalizado lhe assegurar na prática o significado desta continuidade educacional, mesmo estando em uma classe que não seja da escola na qual anteriormente o mesmo encontrava-se habituado. Percebe-se, assim, que o pedagogo hospitalar não lida singularmente com as questões de ensino-aprendizagem destes alunos. Faz-se necessário uma escuta e uma interação entre ambos que ultrapassam os planejamentos e práticas curriculares.
É perceptível que o pedagogo é contemplado por uma capacitação de currículo ímpar no que se refere a lidar com a interação social, psicossocial, sócio- afetivo e ensino aprendizagem, dentro e fora do ambiente educacional regular. Entretanto, se faz necessário também uma constante reavaliação e quando necessárias adaptações das grades curriculares, contribuindo assim na formação de pedagogos ainda mais conscientes de sua responsabilidade profissional e também dos desafios que enfrentarão todos os dias, no exercício de sua profissão.
5. O QUE DIZEM AS TEORIAS DO CURRÍCULO?
O currículo é um instrumento de apresentação sobre as qualificações profissionais das pessoas, sendo sempre o resultado de uma seleção
Para Silva (2011), existem três tipos de teorias de currículo; tradicionais, críticas e pós-críticas, essas teorias vem nos mostrar o percurso construído até chegar aos tipos que são vistos atualmente. Nas teorias tradicionais, os conhecimentos eram técnicos, as pessoas eram preparadas para o mercado de trabalho, não eram vistos como seres transformadores da sociedade; já a teoria crítica ressaltava a transmissão de ideologia através de disciplina, valorizando a construção do indivíduo, porém era necessário a criticidade e reflexões menos ideológicas para a construção da sociedade; na teoria pós-crítica o currículo torna-se multiculturalista, ou seja, enfatizando a liberdade de expressão da sociedade contemporânea, sendo assim, respeitando as questões de gênero, classe, etnia, raça, crença, sexualidade e diversidade cultural. Lira e Carvalho (2012) resumem as teorias de Silva (2011) e relatam que;
Teorias Tradicionais: Ênfase nos conceitos pedagógicos de ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos. O que ensinar? Como ensinar? Teorias Críticas: Ênfase nos conceitos de ideologia, poder, reprodução cultural e social, classe social, capitalismo relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e resistência. Por que esse conhecimento e não outro? Teoria Pós-críticas: Ênfase nos conceitos de identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo. Por que privilegiar um determinado tipo de subjetividade ou identidade e não outra? (LIRA E CARVALHO, 2012, p.3).
Os currículos que embasam o curso de Pedagogia ainda são bastante tradicionais, pois se faz necessário uma apresentação de como de fato foi a capacitação do profissional e como o mesmo pretende atuar.
O curso de graduação em Pedagogia é regido pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta e dá a base para a educação nacional, sendo sancionada em 20 de dezembro de 1996, lei de número 9.394, porém somente em 15 de maio de 2006, essas leis vigentes foram instituídas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação, nº 1 e reconhecida nos Pareceres CNE/CP nº. 5/2005 e nº. 3/2006. O artigo 62 da LDB estabelece que,
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996).
Sendo assim, nota-se que o pedagogo é formado em curso superior em licenciatura ou graduação plena, podendo lecionar da educação infantil (creche e pré-escola) ao fundamental I (do primeiro ano ao quinto), incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA), com o propósito de alfabetizar e tornar esse público letrado, com ênfase em propostas que julguem apropriadas. De acordo com Cruz e Arosa (2014),
A formação por ele oferecida deve abranger integradamente à docência a participação na gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a elaboração, a execução, o acompanhamento de programas e as atividades educativas em contextos escolares e não escolares, podendo contemplar uma diversidade de temas, dentre os quais: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos, Ensino Médio, educação na cidade e no campo, educação dos povos indígenas, educação dos remanescentes de quilombos, educação das relações étnico-raciais, inclusão escolar e social das pessoas com necessidades especiais, educação dos meninos e meninas de rua, educação à distância, novas tecnologias de informação e comunicação aplicadas à educação e atividades educativas em instituições não escolares, comunitárias e populares. (CRUZ E AROSA, 2014).
Assim sendo, os pedagogos são formados para uma atuação de docência em sala de aula, podendo atuar em diversas modalidades de ensino.
No entanto, existe uma inquietude muito grande dos graduandos em Pedagogia, pois os mesmos não se sentem aptos para atuação direta em outros campos depois de formados.
O quê, de fato, o currículo traz? Será que as matérias obrigatórias desse curso realmente habilitam esses profissionais? E quais essas matérias? Cruz e Arosa (2014), afirmam que,
Formar o pedagogo na perspectiva já discutida, que envolve a compreensão da realidade educacional referenciada pelos domínios de conhecimento constitutivos da área (Antropologia, Filosofia, História, Psicologia, Sociologia, entre outros), a projeção de ações para intervir na realidade educacional, sua implementação, avaliação e redimensionamento, o que fará emergir outro saber, nem só teórico, nem só prático, mas, essencialmente, teórico-prático. (CRUZ E AROSA, 2014).
O pedagogo é formado para atuação em diversos campos, podendo operar em diversas áreas, já que em sua grade curricular existe a preocupação de formação social, psicológica, histórica, filosófica e prática.
Atualmente, nota-se que o currículo é um instrumento de grande valia, pois possibilita ao profissional se credibilizar perante o mercado de trabalho e assim se promover, segundo suas qualificações, competências e habilidades.
6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS
Objetivando adquirir dados atuais acerca do assunto, utilizou-se de uma pesquisa quantitativa, através da qual, foram entrevistadas 48 pessoas, sendo uma (1) do sexo masculino e quarenta e sete (47) do sexo feminino, notando-se o que se revela no senso comum, que a maioria desses profissionais é mulher, como mostra o gráfico 1. A faixa etária dos entrevistados varia de 28 a 68 anos, conforme o gráfico 2.
Gráfico 1 – Sexo/ Gênero dos informantes Gráfico 2- Faixa etária dos entrevistados
De acordo com a pesquisa, vinte e um (21) dos entrevistados disseram que a falta de experiência é o que mais tem de desafiador quando o pedagogo termina sua graduação, sendo assim, o currículo do curso não o deixa seguro para atuação docente, muito menos em áreas de menores concentração desses profissionais. A falta de oportunidades, aceitação e credibilidade também foram trazidas como desafios, pois o mercado de trabalho ainda encontra-se bastante limitado para uma atuação efetiva, como mostra o gráfico 3.
Gráfico 3- Maiores desafios para os pedagogos
Percebe-se que os pedagogos entrevistados têm consciência da sua importância como profissionais em espaços socioeducativo não formais, e das suas atribuições nesses espaços, porém a grande maioria revela que essa consciência restringe-se a teoria, pois os que se denominaram capacitados a atuarem em espaços não-escolares já passaram por algum tipo de especialização e quando indagados a respeito da estrutura curricular do curso de Pedagogia, é unanime a afirmação da fragilidade desse currículo ao que se refere a formação desses profissionais para atuarem em espaços não formais, capacitando-os apenas para docência.
Uma informação relevante é que vários dos entrevistados que afirmaram atuar ou conhecer algum pedagogo que atue fora da sala de aula, se referiam aos gestores e coordenadores pedagógicos que, embora estejam fora da sala de aula permanecem dentro do espaço escolar, como mostra o gráfico 4.
Gráfico 4 – Áreas de atuação do pedagogo.
Conforme mostram os relatos a seguir o mercado de trabalho extraclasse é?
Exemplo 1:
Um pouco restrito, concorrente com outros profissionais, como já mencionei, o próprio psicólogo. Se o pedagogo não tiver um curso de extensão, possivelmente terá muitas dificuldades. (K.S.L, 40 anos, formada em 1999). Muito restrito e com poucas oportunidades. (L.M.P, 35 anos, formado em 2006).
Exemplo 2:
O mercado é altamente exigente. Se o Pedagogo não tem experiência anterior em outras áreas, nem sempre consegue obter êxito com as novas investidas. Precisa ter um “algo a mais”! (A.B.R.Q.S, 37 anos, formada em 2009).
Exemplo 3:
O espaço existe, porém ainda é muito restrito. A maioria das pessoas que se formam em pedagogia são absorvidas pela educação escolar. (I.C.B.C.L, 50 anos, formada em 2000).
Sendo assim, o mercado de trabalho extraclasse para o pedagogo ainda é visto como algo limitado, restrito, pois, segundo os relatos, existe uma concorrência e discriminação que limita o profissional a vivenciar outras áreas de atuação. Outro ponto que fragiliza a atuação do pedagogo em espaços fora do âmbito escolar é a inexperiência, pois na formação curricular não se trata efetivamente desses espaços e de suas atuações.
Gráfico 5 – Áreas de atuação do pedagogo extraclasse.
Pôde-se observar que 65% dos entrevistados sentem-se preparados para atuar em outras áreas, porém essas áreas, em sua maioria, são relacionadas ao ensino em espaços não formais (ONGs, hospitais, capacitação de pessoas, etc), pois embora digam que se sentem preparados para atuação em outras áreas, não se sentem seguros para trabalharem em espaços empresariais ou gerenciais (fora da escola), sendo necessária uma melhor qualificação e capacitação para tal prática.
7. CONCLUSÃO
O objetivo maior desse artigo foi conquistado, visto que ao longo de sua confecção, conseguiu-se responder todas as questões norteadoras do mesmo, de forma a contribuir de maneira significativa na busca por um olhar abrangente do mercado de trabalho e atuações extraclasse do Pedagogo.
O Pedagogo é um profissional que abrange em sua grade curricular matérias de formação social, psicológica, histórica, filosófica e prática, apto a atuar em diversas áreas, tais como; hospitais, ONGs, empresas, ambientes socioeducacionais. Porém, no término de sua graduação, não se sente preparado para essa prática, necessitando de especializações e cursos para se qualificarem e assegurarem um bom desempenho nesses ambientes. Notou-se, porém, que o Pedagogo não possui a visibilidade de cursos de formação profissional, que o norteie e assegure a sua atuação em ambientes não escolares, tendo somente seu olhar voltado a especializações em áreas ligadas à docência, com isso levando-os, quase sempre, a caminhos entrelaçados ao ensino em sala de aula, sejam elas em qualquer âmbito.
As pesquisas e revisões de literatura realizadas, ao longo da confecção desse artigo, indicaram a fragilidade curricular dos cursos de Pedagogia, no que se refere, principalmente, a preparação dos seus graduandos para atuação extraclasse.
Percebe-se que embora o pedagogo deva estar habilitado para atuar em qualquer espaço socioeducativo, logo após sua formação, a maioria dos mesmos só se sentem seguros para prestarem suas contribuições em salas de aula, visto que as instituições têm como foco o trabalho escolar e docente. Outro fator relevante para a ausência desses profissionais em espaços não escolares é o preconceito de profissionais de outras áreas que, por falta de conhecimentos precisos a respeito das habilidades de um pedagogo, enxergando-os somente como um concorrente, reduzindo a importância do seu trabalho unicamente à docência.
Exemplo 4:
O curso de Pedagogia de qualquer faculdade não prepara os alunos para as demandas sociais. Para que haja um mínimo de conhecimento, o próprio aluno deve buscar meios que viabilizem esse preparo. Lembro que, por não ter tido experiências sólidas anteriores, saí da faculdade com muita dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, na área de Educação. A oportunidade de lecionar em um curso profissionalizante surgiu a partir das minhas experiências anteriores ao curso, as quais se unificaram aos conhecimentos que a graduação me ofereceu, como organização de plano de aula e a didática para facilitar o ensino aprendizagem dos alunos. Mas a graduação em si não me ofereceu o que eu esperava. Minha habilitação era em Educação de Jovens e Adultos e, em nossa cidade, não há contratação de profissionais que não sejam da rede pública para tal atuação. (A.B.R.Q.S, 37 anos, formada em 2009).
Esse relato vem demonstrar que, com o término da graduação, o pedagogo ainda se sente inseguro e despreparado para sua atuação profissional, somente com a busca por qualificação é que se pode de fato atuar em qualquer campo de trabalho.
Um ponto de bastante importância que poderá ser tratado em outro artigo referente a essa temática é quais cursos, de fato, podem ser feitos para que o Pedagogo se qualifique e sinta-se seguro para atuação em ambientes extraclasse, que valorize seu potencial.
Embora o questionário aplicado possibilite uma maior exploração de dados, optou-se por analisar, minuciosamente, apenas os que mais contribuiriam para as respostas das perguntas propostas ao longo do artigo e os demais dados coletados poderão contribuir para uma futura pesquisa relacionada ao pedagogo e suas áreas de atuação.
NOTAS
[1] Trabalho resultante dos Estudos Interdisciplinares da Faculdade Montessoriano de Salvador, sob a orientação do Profº MSc Leandro Almeida.
[2] Aluna do Curso de Pedagogia, 4º semestre de 2016.1. E-mail: ingrid_levita @hotmail.com.
[3] Aluna do Curso de Pedagogia, 4º semestre de 2016.1. E-mail: leila_cal@yahoo.com.br.
[4] Aluna do Curso de Pedagogia, 4º semestre de 2016.1. E-mail: leila_cal@yahoo.com.br.
[5] Aluna do Curso de Pedagogia, 4º semestre de 2016.1. E-mail: selenegomes@hotmail.com.
[6] Professor da Faculdade Montessoriano e da UNIRB, Doutorando em Língua e Cultura – PPGLinC/ UFBa. E-mail: santosleo1811@gmail.com.
[7] Embora considere a questão de gênero pertinente e atual, aqui, neste artigo, os pedagogos e as pedagogas serão nomeados por “pedagogo”, em sentido amplo.
REFERÊNCIAS
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<file:///C:/Users/SEL/Downloads/1124-4216-1-PB%20(1).pdf> Acesso em 11 set. 2016.
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